A desconstrução do pós-modernismo

Julio Cesar Prava
36 min readMay 15, 2019

Muitas pessoas atacam a militância identitária e algumas de suas pautas rotulando elas como pós-modernas. Interessado pela temática me propus a entender estas críticas. Este texto traz algumas definições do pós-modernismo, seus acertos e contradições, com diversas citações.

Sumário

  1. O pós-modernismo
  2. As políticas de identidade, os erros e as implicações do pós-modernismo
  3. A contradição do pós-modernismo
  4. Os acertos do pós-modernismo
  5. Pós-modernismo da esquerda à direita
  6. Recomendações

Observações importantes

  • O título foi propositalmente ambíguo
  • Pode-se dizer que a multiculturalidade e o mundo digital já inaugura a era pós-moderna, no entanto, este texto refere-se ao pós-modernismo como uma corrente historiográfica particular e não a generalização da época em que vivemos
  • Nem todo pós-moderno sabe que é ou admite ser pós-moderno, as pessoas as vezes simplesmente se adequam à culturas e pensamentos e nelas pode haver ideias dos proponentes desta visão
  • Este texto pode ter alterações textuais e correções ortográficas para melhorar sua compreensão

O pós-modernismo

A modernidade é configurada pelas grandes narrativas filosóficas e científicas que tem como base uma visão objetiva e que enuncia valores de verdade consensuais como o materialismo, a racionalidade, o progresso, a paz universal, todos bem denotados pelo movimento racionalista e iluminista.

Já o pós-modernismo é descrito, de forma comum, como um movimento filosófico e político identitário, que epistemologicamente nega o objetivismo, o método científico e também essas grandes narrativas em nome da superação das opressões estruturais, desta forma requer uma quebra da hegemonia do conhecimento objetivo e o questionamento da sua construção, tendo assim implicação nas artes, na arquitetura, no cinema, na literatura, na linguagem, e por fim na ciência, na filosofia, na política, na história e na cultura.

Em seu curso de História da Filosofia, na aula de Introdução à Filosofia Contemporânea, Vitor Lima diz o seguinte:

(falando sobre Holderlin, Novalis, Schiller, Schlegel […]) O Romantismo, século 19, na mesma época do Hegel, é conhecido por desviar o foco dos estudos da modernidade e do conhecimento. Para o romantismo o que há de mais relevante para ser estudado não é o conhecimento, nem as condições de possibilidades do conhecimento como a gente viu no Kant e também para eles não é uma questão de fundamentar ou estudar a ciência como esse modelo privilegiado de relação do homem com a realidade, não é. Então, é um grande movimento que tem bastante influencia na nossa cultura, ele no séc. 19 tá dizendo o seguinte: O mais importante não é investigar conhecimento ou as condições de possibilidade do conhecimento, o mais importante não é a ciência como modelo privilegiado do homem com a realidade, há outras relações possíveis do homem com a realidade, a relação artística por exemplo, uma concepção de vida que não passa necessariamente por essa redução ao que pode ser cientificamente comprovado, e o romantismo portanto muda a perspectiva de vários pensadores a partir de então. Isso é uma segunda ruptura com o modelo de filosofia enquanto epistemologia, teoria do conhecimento e ciência como sendo o mais basilar aonde podemos chegar. Fora isso teve o seguinte, no séc. 19, vai surgindo uma tendência de desconfiar fortemente de filosofia enquanto sistema que dá conta da realidade como um todo, talvez um último a tentar fazer um sistema que dá conta da realidade como tudo foi o Hegel, Hegel escreveu livro sobre tudo, ele tentou fazer a fenomenologia do espírito, ou seja, a análise do espírito como ele aparece, como ele se mostra, fazendo uma teoria abrangente que pegava todos os aspectos da cultura, desde as artes até o direito, mas isso entra cada vez mais em descrédito, porque o séc. 19 é o século em que a filosofia passa a se ramificar em ciências, na verdade não é que ela passa a se ramificar, é que as ciências passam a se tornar autônomas da filosofia, então surge a antropologia, surge a psicologia, surge os estudos em lógica, surge a biologia, a química, a física, no séc. 19 surge todas as ciências, essas ciências cada uma delas vai tendo uma metodologia própria, que não se resume, não se reduz a metodologia das demais. Tem um conjunto de pesquisas, um projeto de pesquisa, um campo de estudos completamente particular de modo que fica quase que forçação de barra dizer que a filosofia vai dar conta de todas as questões como tentava antes, então cada vez que um filósofo tentava propor um grande sistema abrangente para dar conta de todas as áreas do conhecimento isso era visto com desconfiança e até hoje é, a tendência filosófica contemporânea é fortemente influenciada por essa desconfiança dos grandes sistemas, das obras e dos tratados e mil páginas que dão conta de tudo. Não tem como a filosofia falar de tudo porque as coisas são muito mais específicas do que eram. [link]

E continua.

Todos os filósofos contemporâneos podem ser lidos, pelo menos no início da contemporaneidade, como dando respostas de cunho linguístico ou enfatizando a linguagem. Isso é uma grande chave de leitura da contemporaneidade. A antiguidade enfatizava a ontologia, ela não questionava em regra (essa é uma leitura abrangente) se havia ou não havia relação da mente com o mundo, ela tomava como premissa: há essa relação. Então eu vou investigar como é que é o mundo, vou fazer metafísica, entendida aqui como ontologia. A idade moderna começa a perguntar sobre essa possibilidade de relação entre mente e mundo e começa a fazer teorias sobre a mente que dão conta dessa relação. Então o foco sai da metafísica e ontologia para a epistemologia. A contemporaneidade muda o foco da epistemologia e passa a falar em termos de linguagem. Porque linguagem? Primeiro motivo de porque linguagem, é que passou a se desconfiar das teorias modernas que davam conta da relação sujeito-objeto, a segunda grande questão é que pelo menos inicialmente os filósofos contemporâneos passaram a identificar na linguagem algo mais seguro que o estudo da mente em si. […] Houve duas perspectivas sobre como os filósofos contemporâneos passaram a tratar a linguagem. […] Na primeira concepção a linguagem é parte constitutiva do modo como a mente subetiva opera, na segunda concepção a linguagem é entendida como um processo indenpendente da mente subjetiva. Cada uma dessas concepções vai dar um tipo de filosofia diferente no séc. 20, a parte da linguagem autônoma e lógica, vai dar origem ao que a gente chama de Filosofia Analítica e a parte da linguagem como constitutiva do processo mental subjetivo vai dar origem ao que a gente chama de Filosofia Continental.

Muito fala-se sobre o início deste movimento não tendo portanto uma só conclusão, mas sabe-se que à partir do final do séc. XIX, as grandes metanarrativas começaram a ser questionadas, e após a segunda guerra mundial começaram a adentrar na política.

Joaquina Pires-O’Brien, afirma:

“Enquanto que a modernidade baseia-se no Iluminismo e nos avanços do racionalismo e da ciência, a pós-modernidade baseia-se na ruptura com o Iluminismo e com o rigor do racionalismo e da ciência. Dentro da concepção da modernidade surgiu a escola linguística estruturalista, que ao ser absorvida por outras disciplinas das humanidades e das ciências sociais gerou uma visão geral do mundo baseada no conhecimento e na realidade, a qual passou a ser chamada de estruturalismo. Dentro do estruturalismo surgiram dissidências, as quais não lograram criar uma visão explícita que merecesse o nome de escola filosófica, mas mesmo assim passou a identificar-se como pós estruturalismo. A abordagens respectivas da modernidade e da pós-modernidade confundem-se com essas, e por essa razão, modernidade e estruturalismo viraram sinônimos, assim como pós-modernidade e pós-estruturalismo.” — Joaquina Pires-O’Brien, ‘O pós-modernismo é errado porque é falso’ [link]

Ao introduzir o livro ‘A Condição Pós-Moderna’, de Jean-François Lyotard, Wilmar do Valle Barbosa relata:

“O pós-moderno, enquanto condição da cultura nesta era, caracteriza-se exatamente pela incredulidade perante o metadiscurso filosófico-metafísico, com suas pretensões atemporais e universalizantes.” — Wilmar do Valle Barbosa, ‘A Condição Pós-Moderna’ (de Jean-François Lyotard), página viii [link]

Nas palavras de Lyotard, na introdução do mesmo livro:

“[…] considera-se “pós-moderna” a incredulidade em relação aos metarrelatos. […] Ao desuso do dispositivo metanarrativo de legitimação corresponde sobretudo a crise da filosofia metafísica e a da instituição universitária que dela dependia. A função narrativa perde seus atores (functeurs), os grandes heróis, os grandes perigos, os grandes périplos e o grande objetivo. Ela se dispersa em nuvens de elementos de linguagem narrativos, mas também denotativos, prescritivos, descritivos etc., cada um veiculando consigo validades pragmáticas sui generis.

[…]

O pós-moderno, enquanto condição da cultura nesta era, caracteriza-se exatamente pela incredulidade perante o metadiscurso filosófico-metafísico, com suas pretensões atemporais e universalizantes.” — Jean-François Lyotard, ‘A Condição Pós-Moderna’, páginas xvi e xvii [link]

O pós-modernismo está ligado a três movimentos: um artístico-estético, um filosófico e um histórico. O filosófico é fruto do construtivismo, do ceticismo radical e do pós-estruturalismo, que fazem parte da filosofia continental, já a parte histórica é ligada a nova história social, ao novo historicismo, que é um ceticismo-relativismo historiográfico, e a teorias críticas identitárias decorrentes da ascensão da multiculturalidade, críticas com enfoque em políticas de identidade grupal e sistemas de privilégio, tendo assim uma forte ligação com a Escola de Frankfurt e com a Nova Esquerda. Suas aplicações se dão no feminismo interseccional, na teoria queer, na teoria crítica de raça, não obstante também está presente em visões liberais.

“Hicks afirma que o pós-modernismo é definido por quatro características. Primeiro, é uma posição metafisicamente antirrealista, que sustenta que é “impossível falar significativamente sobre uma realidade independente”. Segundo, o pós-modernismo é epistemologicamente cético quanto à possibilidade de adquirir conhecimento objetivo sobre o mundo. Terceiro, é metodologicamente coletivista, considerando a natureza humana como definida principalmente por afiliações de grupo. E, quarto, o pós-modernismo está politicamente comprometido em proteger os grupos que os pós-modernistas consideram vítimas.” — Matthew McManus, ‘Uma revisão da explicação do pós-modernismo por Stephen Hicks’ [link]

Epistemologicamente falando, o pós-modernismo é antifundacionista e se apresenta como um hiperconstrutivismo social. Suas ideias são expostas pelos pensadores os pós-estruturalistas Michel Foucault, Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Jean-François Lyotard, Jean Baudrillard e Judith Butler. Vista aos olhos do racionalismo ambas correntes implicam em problemas epistemológicos e éticos, tais quais desembocam na academia em áreas de estudos críticos com viéses de justiça social e, por consequência, começam a se tornar culturais.

O pós-estruturalismo levou as teses estruturalistas a posições extremas e na verdade auto-refutantes. Para compreendermos um texto temos de excluir rigorosamente todos os elementos extratextuais. Isto significa não apenas o abandono da procura de qualquer realidade exterior representada pelo texto, mas também deixar de encarar o texto como a expressão do pensamento de um autor extra-textual. É o leitor que desempenha a parte de leão na produção do significado; mas dado que cada leitor interpreta qualquer texto de maneira diferente, nunca emerge qualquer significado definitivo, e assim cada texto destrói a sua própria pretensão de significar seja o que for. — Anthony Kenny, A filosofia contemporânea [link]

Como bem resume Michiko Kakutani em seu livro “A morte da verdade”:

“Há muitas linhas diferentes de pós-modernismo, assim como muitas interpretações diferentes. No entanto, de modo geral, os argumentos pós-modernos negam a existência de uma realidade objetiva independente da percepção humana, argumentando que o conhecimento é filtrado pelos prismas da classe, raça, gênero e outras variáveis. Ao rejeitar a possibilidade de uma realidade objetiva e substituir as noções de verdade, o pós-modernismo consagrou o princípio da subjetividade. A linguagem é vista como não confiável e instável (parte da lacuna intransponível entre o que é dito e o que se entende); e mesmo a noção de pessoas que agem como indivíduos totalmente racionais e autônomos é descartada, pois cada um de nós é moldado, conscientemente ou não, por um tempo e uma cultura específicos. Abaixo a ideia de consenso. Abaixo a visão da história como uma narrativa linear. Abaixo as grandes metanarrativas universais ou transcendentes. O iluminismo, por exemplo, é descartado por muitos pós-modernistas de esquerda como uma leitura hegemônica e eurocêntrica da história, destinada a promover noções colonialistas ou capitalistas da razão e progresso. A narrativa cristã da redenção também é rejeitada, assim como o caminho marxista para uma utopia comunista. Para alguns pós-modernistas, observa o acadêmico Christopher Butler, até os argumentos dos cientistas podem ser “vistos como não mais que seminarrativas que competem com todas as outras por aceitação. Não se encaixam de uma forma particular ou confiável no mundo, não possuem nenhuma correspondência inquestionável com a realidade. São apenas outra forma de ficção.” — Michiko Kakutani, ‘A morte da verdade — notas sobre a mentira na era Trump’ página 56.

Segundo o filósofo Gary Steiner:

“[…] fundamental para o pós-modernismo é o esforço de desafiar as pretensões da filosofia tradicional à verdade objetiva e à determinação de princípios. Do ponto de vista epistemológico, esse esforço nasce da crença de que toda experiência é essencialmente obscura e indeterminada, e que qualquer caracterização da experiência em termos perspícuos é uma distorção idealizada da complexidade irredutível dos fenômenos experienciais. Do ponto de vista político, o esforço nasce da convicção de que os princípios abstratos são simplesmente ferramentas para a supressão da diferença; o apelo aos princípios abstratos, dizem-nos, simplesmente reproduz regimes estabelecidos de dominância e submissão. Os princípios, assim, tornam-se reduzidos a nada mais que armas em lutas polêmicas em que aqueles que estão no poder procuram preservar sua posição de domínio e frustrar o esforço dos incapazes de obter reconhecimento e fortalecimento.” — Animais e os limites do pós-modernismo, Gary Steiner [intro]

Assim como o iluminismo firmou o conhecimento científico, posteriormente questionando a existência de deuses, o pós-modernismo questiona a existência da universalidade, sendo portanto, a crise dos universais, da ideia de certeza, da verdade, das meta-narrativas e das utopias. O pós-modernismo, enquanto filosofia de desconstrução, nos diz que a interpretação que damos as coisas é a verdade e não a materialidade delas em si, os objetos portanto são miragens que damos significados, aos seus olhos tudo é um discurso.

“o Pós-Moderno reuniria, embora com variações possíveis e eventuais não adesões a um ou outro aspeto, cinco principais características: 1) a desvalorização da Presença em favor da Representação; 2) a crítica da origem; 3) a rejeição da unidade em favor da pluralidade; 4) crítica da transcendência das normas, em favor da sua imanência; 5) uma análise centrada na alteridade constitutiva.

[…]

No plano geral, a unidade holística do modernismo estruturalista e do realismo historicista rompe-se definitivamente do ponto de vista pós-moderno” — José d’Assunção Barros, ‘A historiografia pós-moderna’ [link]

Vale lembrar que é difícil ao certo definir em qual ideologia política o pós-modernismo se faz mais presente, haja visto que os marxistas colocam os pós-modernos como liberais — que abandonaram a luta de classes aceitando uma reconciliação e não conseguido se comunicar com a classe trabalhadora — e os liberais colocam os pós-modernos como anti-liberais — que negam os princípios que sustentam as democracias.

As políticas de identidade, os erros e as implicações do pós-modernismo

Muitas pessoas gostam da filmografia de Quentin Tarantino. Esteticamente pós-moderna, é considerada uma obra prima por trazer uma abordagem que quebra as convenções anteriormente bem estabelecidas na construção dos filmes. O autor utiliza-se de diversos contextos e mixagens, protagonistas incomuns e muito experimentalismo. Sem dúvida, uma abordagem técnica inovadora e impactante. Da mesma forma é o pós-modernismo no campo acadêmico: ele traz novas perspectivas que confrontam o convencional, um protagonismo representativo e, por vezes, ideias non sense.

Paralelamente ambos são admirados por parte das novas gerações, no entanto há uma diferença fundamental entre suas aplicações, pois enquanto as violações da estrutura e da lógica comum no campo da estética (nas artes, no cinema, na arquitetura, etc) não acarretam em dano algum à sociedade, buscar destruir a lógica base da filosofia (na epistemologia e na ética) pode trazer efeitos nocivos sobre a construção do conhecimento e do estudo do que é real.

O pós-modernismo, nega os valores objetivos pois advoga o fracasso das grandes narrativas para tornar o mundo um lugar diverso. Partindo então do prisma das vítimas das opressões que ainda se sustentam, questiona também a construção do conhecimento científico e o coloca como uma questão de consenso da elite para se manter no poder.

Uma analogia ao pós-modernismo é, há diversos críticos (dos anarcocomunistas aos anarcocapitalistas) ao governo e à democracia, pela ineficácia e pelo poder exercido por esta entidade, então ao invés de reformar estas entidades, eles as condenam totalmente, postulando que elas são intrinsecamente conectadas as injustiças. O mesmo ocorre com a visão pós-moderna sobre o modo que construímos conhecimento até então. Para ‘ela’ as grandes ideologias não foram capazes de superar todas as desigualdades, então é preciso negá-las totalmente, pois elas são um intrínseco instrumento de poder. A ciência e à razão acabam por ser condenadas, em nome de uma luta anti-desigualdade feita pela visão dos oprimidos, eis que surge a força da política identitária onde o local de fala dá lugar a universidade da fala (garantida por princípios liberais), a dívida histórica se apresenta como ferramenta para criticar méritos e surgem novos termos acusatórios de discriminações (que por vezes são justificados).

Há uma diferença fundamental entre os movimentos por direitos de hoje, influenciados pelo pós-modernismo, com os movimentos por direitos civis anteriores. Ambos demandam igualdade e se colocam anti-opressão, mas enquanto o primeiro faz uma abordagem com apelo à diferença o outro faz o apelo à igualdade.

Os movimentos por direitos com apelo à identidade, reconhecem as diferenças, como bem pode-se observar no movimento negro e no feminismo, já os movimentos por direitos civis nos Estados Unidos — anteriores aos anos 60 — preocupavam-se mais em reconhecer os princípios da igualdade.

Muito dos movimentos atuais são ditos identitários pois suas políticas são políticas de reforço da identificação e se baseiam no apelo ao grupo oprimido, o que lhe traz críticas por criar ‘justiça’ por ressentimento, sofrimento e vingança ao invés da luta por universalidade de princípios e da igualdade em si — comum nas grandes narrativas negadas pelo pós-modernismo — , que crê-se que traz uma transformação social mais efetiva.

Ressaltar identidades sempre fez parte dos movimentos políticos, até porque existem os padrões dominantes para serem quebrados, mas com o passar do tempo os movimentos identitários tornaram isso um pilar. Isso levanta uma crítica interessante, afinal, se pararmos para pensar um negro brasileiro é tão africano quanto um sulista é europeu, então porque ressaltar a ancestralidade africana seria um discurso mais importante que ressaltar os direitos humanos? Não que um exclua o outro, mas o foco deveria continuar nos direitos humanos e em seus argumentos racionais.

Helen Pluckrose e James A. Lindsay, no texto ‘A política de identidade não continua o trabalho dos movimentos dos direitos civis’, dizem:

“A política identitária é uma abordagem bem diferente do liberalismo universal e, na sua forma de Justiça Social, deriva de uma virada intelectual na academia esquerdista. Desde o fim dos anos 1960 até meados dos anos 1980, alguns intelectuais de esquerda de várias disciplinas tiveram uma desilusão com o marxismo e teorizaram um modo radicalmente diferente de ver a sociedade. Durante esse tempo as sociedades ocidentais estavam atingindo grandes avanços em combater desigualdades legais ao descriminalizar a homossexualidade masculina e criminalizar a discriminação baseada em raça ou sexo, tanto no acesso ao emprego quanto ao salário. Também foi um tempo de grandes avanços na ciência, incluindo avanços que deram às mulheres o controle sobre a reprodução. Ironicamente, ao mesmo tempo, esse grupo de intelectuais de esquerda desiludidos decidiu que era hora de desistir do mito do progresso e da validade da ciência. Assim nasceu o pós-modernismo, que se aproveitou do bom nome dos movimentos de direitos civis para defender sua própria abordagem de quebra de forças hegemônicas na sociedade e dessa forma desfazer os problemas que essas hegemonias causam.” — Helen Pluckrose e James A. Lindsay, A política de identidade não continua o trabalho dos movimentos dos direitos civis’ [link]

Porém, os erros da com a abordagem política identitária, fomentada pelo pós-modernismo, são:

> Epistemológicos: Ela depende da altamente duvidosa teoria construtivista social e por isso produz leituras fortemente enviesadas de situações.

> Psicológicos: Seu foco único na identidade é divisivo, reduz a empatia entre os grupos e vai contra intuições morais fundamentais de justiça e reciprocidade.

> Sociais: Ao falhar em defender princípios de não-discriminação com coerência, ela ameaça enfraquecer ou destruir tabus sociais contra julgar as pessoas por sua raça, gênero ou sexualidade. — Helen Pluckrose e James A. Lindsay, Identity Politics Does Not Continue the Work of the Civil Rights Movements [link]

Esse visão da deslegitimação do conhecimento científico é bem demonstrada por Lyotard. Ele afirma que a ciência é uma forma de elitismo e imperialismo, pois não aceita aquilo que ela não afirma que é ciência:

“O cientista interroga-se sobre a validade dos enunciados narrativos e constata que eles não são nunca submetidos à argumentação e à prova. Ele os classifica conforme outra mentalidade: selvagem, primitivo, subdesenvolvido, atrasado, alienado, feito de opiniões, de costumes, de autoridade, de preconceitos, de ignorâncias, de ideologias. Os relatos são fábulas, lendas, mitos bons para as mulheres e as crianças. Nos melhores casos, tentar-se-á fazer, penetrar a luz neste obscurantismo, civilizar, educar, desenvolver. Esta relação desigual é um efeito intrínseco das. regras próprias a cada jogo. Conhecem-se os seus sintomas. É toda a história do imperialismo cultural desde os inícios do Ocidente. É importante reconhecer o seu teor, que o distingue de todos os outros: está comandado pela exigência de legitimação.” — A Condição Pós-Moderna, de Jean-François Lyotard, pág. 49 [link]

A partir disso, na defesa do conhecimento popular, marginalizado, negado pela autoridade da ciência, faz questionamentos céticos sobre a ciência, a taxa de burguesa, tece uma crítica aos especialistas e ressalta o “saber dos relatos”:

“Com a ciência moderna, duas novas componentes aparecem na problemática da legitimação. De início, para responder à questão: como provar a prova?, ou, mais geralmente: quem decide sobre o que é verdadeiro?, desvia-se da busca metafísica de uma prova primeira ou de uma autoridade transcendente, reconhece-se que as condições do verdadeiro, isto é, as regras de jogo da ciência, são imanentes a este jogo, que elas não podem ser estabelecidas de outro modo a não ser no seio de um debate já ele mesmo científico, e que não existe outra prova de que as regras sejam boas, senão o fato delas formarem o consenso dos experts.

Esta disposição geral da modernidade em definir os elementos de um discurso num discurso sobre estes elementos combina-se com o reestabelecimento da dignidade das culturas narrativas (populares), já no humanismo renascentista, e diversamente no iluminismo, no Sturm und Drang, na filosofia idealista alemã, na escola histórica na França. A narração deixa de ser um lapso da legitimação. Este apelo explícito ao relato na problemática do saber é concomitante à emancipação dos burgueses em relação às autoridades tradicionais. O saber dos relatos retorna no Ocidente para fornecer uma solução à legitimação das novas autoridades. É natural que, numa problemática narrativa, esta questão espere a resposta de um nome de heróis quem tem o direito de decidir pela sociedade? Qual é o sujeito cujas prescrições são as normas para aqueles que elas obrigam?

Este modo de interrogar a legitimidade sociopolítica combina-se com a nova atitude científica: o nome do herói é o povo, o sinal da legitimidade seu consenso, a deliberação seu modo de normativação. Disto resulta infalivelmente a ideia de progresso; ela não representa outra coisa senão o movimento pelo qual supõe-se que o saber se acumula, mas este movimento estende-se ao novo sujeito sociopolítico. O povo está em debate consigo mesmo sobre o que é justo e injusto, da mesma maneira que a comunidade dos cientistas sobre o que é verdadeiro e falso; o povo acumula as leis civis, como os cientistas acumulam as leis científicas; o povo aperfeiçoa as regras do seu consenso por disposições constitucionais, como os cientistas revisam à luz dos seus conhecimentos produzindo novos “paradigmas”.

Vê-se que este “povo” difere completamente daquele que está implicado nos saberes narrativos tradicionais, os quais, como se disse, não requerem nenhuma deliberação instituinte, nenhuma progressão cumulativa, nenhuma pretensão à universalidade: são eles os operadores do saber científico. Não deve causar espanto que os representantes da nova legitimação pelo “povo” sejam também os destruidores ativos dos saberes tradicionais dos povos, percebidos de agora em diante como minorias ou como separatismos potenciais cujo destino não pode ser senão obscurantista.

[…]

O modo de legitimação de que falamos, que reintroduz o relato como validade do saber, pode assim tomar duas direções, conforme represente o sujeito do relato como cognitivo ou como prático: como um herói do conhecimento ou como um herói da liberdade. E, em razão desta alternativa, não somente a legitimação não tem sempre o mesmo sentido, mas o próprio relato aparece já como insuficiente para dar sobre ela uma versão completa.” — A Condição Pós-Moderna, de Jean-François Lyotard, pág. 50 até 56 [link]

Seu raciocínio é algo como “todos sujeitos têm direito à ciência, e não tendo todos este o acesso, a ciência é então elitista, imperialista, machista e racista”, e também “por estarmos em jogos/relações de poder, todas as estruturas criadas pelos grupos privilegiados expressam a vontade de manter poder.”

Assim como ele, muitos pós-modernos adotam a seguinte visão:

  • Homens brancos são uma classe historicamente opressora e privilegiada
  • O Iluminismo — e a ciência moderna — foi um movimento feito por brancos
  • Logo, o Iluminismo é também opressão
  • Por isso temos que negar o Iluminismo

As premissas são verdadeiras, mas não a conclusão. A racionalidade e a igualdade, postos como princípios no Iluminismo, não justificam a exclusão dos grupos por preconceitos injustos, como se faz parecer neste raciocínio.

Este problema de negação e/ou relativização da realidade e da construção do conhecimento vem sendo criticado por filósofos racionalistas, iluministas, eticistas, entre diversos outros que bem observam suas contradições e a sua ineficácia. Segundo os alertas, a implicação disso é epistemologicamente perigosa: iguala o conhecimento não-científico ao conhecimento científico, a subjetividade à objetividade. Na prática, novas áreas acadêmicas vem se tornando um lugar irracional sustentado pela subjetividade e pelo tribalismo dos oprimidos.

Tal problema atinge a construção acadêmica do conhecimento e gera um movimento anti-intelectual, como mostram os pesquisadores, que se opõe construtivismo epistemológico, James A. Lindsay, Peter Boghossian e Helen Pluckrose:

“Nós afirmamos firmemente que há um problema em nossas universidades e que ele está se espalhando rapidamente para a cultura. […] O problema é epistemológico, político, ideológico e ético, e está corrompendo profundamente a erudição nas ciências sociais e humanas. O centro do problema é formalmente chamado de “construtivismo crítico”, e seus eruditos mais notórios são às vezes chamados de “construtivistas radicais”. Expressar esse problema com precisão é difícil, e muitos que já tentaram evitaram fazê-lo de maneira sucinta e precisa. caminho claro. Essa reticência, embora responsável, dada a complexidade do problema e suas raízes, provavelmente ajudou o problema a se perpetuar.”

E completam:

[…] Esse problema é mais facilmente resumido como uma crença abrangente (quase ou totalmente sacralizada) de que muitas características comuns da experiência e da sociedade são socialmente construídas . Essas construções são vistas como sendo quase inteiramente dependentes da dinâmica de poder entre grupos de pessoas, freqüentemente ditadas por sexo, raça ou identificação sexual ou de gênero. Acredita-se que todos os tipos de coisas aceitas como tendo base na realidade, devido a evidências, tenham sido criadas pelas maquinações intencionais e não intencionais de grupos poderosos, a fim de manter o poder sobre os marginalizados. Essa visão de mundo produz um imperativo moral para desmantelar essas construções. — James A. Lindsay, Peter Boghossian e Helen Pluckrose, ‘Academic Grievance Studies and the Corruption of Scholarship’ [link]

Peter Boghossian, vai além em seu artigo ‘O que vem depois do pós-modernismo?’:

“O pós-modernismo nos afastou dos valores objetivos da Verdade e do Iluminismo, como a livre investigação, a livre expressão, o progresso e as metodologias científicas. Valorizava noções de subjetividade e experiência de vida ao mesmo tempo em que depreciava a ideia de um mundo objetivamente cognoscível.

Mas nem todas as experiências vividas tornaram-se igualmente privilegiadas — as experiências dos marginalizados receberam status e deferência particulares. Quanto mais marginalização, opressão e discriminação se experimenta — ou se os antepassados ​​experimentam — mais se atribui uma compreensão clara e precisa da realidade. Antigas hierarquias sociais de dominação e subordinação são assim invertidas para se tornarem novas hierarquias de credibilidade e desconfiança.

O legado é uma internalização generalizada dos valores inquietantes que governam nossa idade: políticas de identidade baseadas na vítima e interseccionalidade. Na política de identidade contemporânea, pessoas de uma certa raça ou religião, ou que compartilham outras características identificadoras, formam alianças baseadas em identidades demográficas. Essas identidades se cruzam de maneiras complexas para construir a auto-compreensão dos indivíduos. Quanto mais se pode reivindicar uma vítima — talvez pertencendo a múltiplos grupos oprimidos -, maior é o status social e mais segura a afirmação de falar a verdade. Em suma, a vitimização percebida se torna um novo tipo de epistemologia.

O pós-modernismo também nos deixou outro legado: o que era visto como objetivamente Verdadeiro — ou tão próximo da verdade quanto podemos afirmar — nos reinos da epistemologia, moralidade e metafísica tornou-se moralmente suspeito. Como a teoria crítica pós-moderna vê a busca pela verdade como sempre definida pelo lugar de alguém em uma matriz de opressão, pensar que existe uma verdade objetiva que pode ser descoberta é transformada em um problema moral. Buscar a verdade objetiva é visto como uma tentativa de “colonizar” os outros com nossas afirmações de verdade; e porque estamos todos situados (por tempo, lugar, cultura, sexualidade, etc.), não pode haver verdade. Em suma, buscar a verdade objetiva e não situada é visto como um ato de opressão. E é essa virada final que não apenas colocou o projeto emancipatório do Iluminismo além do nosso alcance, mas também fora do que é considerado moralmente consensual.” — Peter Boghossian, ‘What comes after postmodernism?’ [link]

James A. Lindsay, Peter Boghossian e Helen Pluckrose, observam:

[…] “há um problema que ocorre com a produção de conhecimento dentro de campos que foram corrompidos por estudos de reclamações decorrentes do construtivismo crítico e do ceticismo radical. Entre os problemas estão tópicos como raça, gênero, sexualidade, sociedade e cultura são pesquisados. Talvez o mais preocupante é como as atuais disciplinas altamente ideológicas minam o valor de um trabalho mais rigoroso sendo feito sobre esses tópicos e corrói a confiança no sistema universitário. A pesquisa nessas áreas é crucial e deve ser rigorosamente conduzida e minimizar as influências ideológicas. Os resultados adicionais sobre estes tópicos divergem da realidade, a maior chance que eles vão ferir aqueles que sua bolsa pretende ajudar.

Pior, o problema da bolsa de estudos corrupta já vazou em outros campos, como educação, trabalho social, mídia, psicologia e sociologia, entre outros — e visa abertamente continuar se espalhando. Isso torna o problema uma grande preocupação que está minando rapidamente a legitimidade e a reputação das universidades, distorcendo a política, eliminando as conversas necessárias e levando a guerra da cultura a uma polarização cada vez mais tóxica e existencial. Além disso, está afetando o ativismo em favor das mulheres e das minorias raciais e sexuais de uma maneira que é contraproducente para os objetivos de igualdade, alimentando a oposição reacionária da direita a esses objetivos de igualdade.”

E afirmam que a mais profunda alegação dos pós-modernos é:

“a necessidade urgente de “interromper” a simples verdade de que a própria ciência — juntamente com nossos melhores métodos de coleta de dados, análise estatística, teste de hipóteses, falsificação e replicação de resultados — geralmente é uma maneira melhor de determinar informações sobre a realidade objetiva de qualquer fenômeno observável do que abordagens não científicas, tradicionais, culturais, religiosas, ideológicas ou mágicas. Isto é, para os estudiosos das injustiças, a própria ciência e o método científico são profundamente problemáticos, se não completamente racistas e sexistas, e precisam ser refeitos para encaminhar políticas identitárias baseadas na injustiça sobre a busca imparcial da verdade.

Como resultado, os construtivistas radicais tendem a acreditar que a ciência e a razão devem ser desmanteladas para permitir que “outras formas de conhecimento” tenham a mesma validação que as iniciativas produtoras de conhecimento. Estas, dependendo do ramo da “teoria” que está sendo invocada, são supostamente de propriedade de mulheres e minorias raciais, culturais, religiosas e sexuais. Não apenas isso, eles são considerados inacessíveis para pessoas mais privilegiadas, como homens heterossexuais brancos. Eles justificam esse pensamento regressivo apelando para sua epistemologia alternativa, chamada de “teoria do ponto de vista”. Isso resulta em um relativismo epistemológico e moral que, por razões políticas, promove formas de conhecimento antitéticas à ciência e à ética que são antitéticas ao liberalismo universal.

O construtivismo radical é, portanto, uma ideia perigosa que se tornou autoritária. Ele repassa a ideia de que devemos , em bases morais, rejeitar amplamente a crença de que o acesso à verdade objetiva existe (objetividade científica) e pode ser descoberto, em princípio, por qualquer entidade capaz de realizar o trabalho ou, mais especificamente, por seres humanos de alguma raça, gênero ou sexualidade (universalidade científica) via teste empírico (empirismo científico).”

E, por fim, concluem:

Embora o conhecimento seja sempre provisório e aberto à revisão, há maneiras melhores e piores de se aproximar dele, e o método científico é o melhor que encontramos. Em contraste, os meios oferecidos pela teoria crítica são demonstravelmente e fatalmente falhos. Particularmente, essa abordagem rejeita a universalidade e a objetividade científicas e insiste, em bases morais, que devemos aceitar em grande parte a noção de múltiplas “verdades” baseadas na identidade. — James A. Lindsay, Peter Boghossian e Helen Pluckrose, ‘Academic Grievance Studies and the Corruption of Scholarship’ [link]

Pós-modernismo da esquerda à direita

As alegações pós-modernas, estão ajudando a reduzir a confiança na ciência, na academia e na história, afinal, ao atacar a objetividade na construção do conhecimento, tentando reduzir as influências ideológicas ajuda a aumentá-las.

Tal fenômeno que ganhou força com a Nova Esquerda a partir dos anos 60, agora se apresenta na Nova Direita (alt right) identitária, surgida no séc. XXI. Da mesma forma que os filósofos de esquerda negaram a objetividade e atacaram a especialidade, agora os filósofos de direita também o fazem: negacionismo acadêmico, científico e histórico.

A Nova Direita é uma reação conservadora ao pós-modernismo. Um apelo à tradições religiosas e a supremacias racionalmente já superadas. Uma oposição à diversidade e ao multiculturalidade — para eles uma anomia. Ao mesmo tempo que opõe-se às transformações culturais e combate o diferente, ela se utiliza de argumentos esdrúxulos e é também anti-iluminista e tribalista. Na prática isso implica em um superpartidarismo cego — que tem um reforço dos algoritmos das redes sociais — e em mídias alternativas produtoras de fake news, além da deslegitimação da academia e da especialização, que já vinham sendo deterioriada pelos pós-modernos de esquerda.

Ao relacionar o pós-modernismo ao niilismo Michiko Kakutani diz:

O desconstrucionismo é, na verdade, profundamente niilista, o que invalida os esforços de jornalistas e historiadores de averiguar as melhores verdades disponíveis por meio da apuração cuidadosa e da ponderação de evidências. Ela sugere que a razão é um valor ultrapassado, que a linguagem não é uma ferramenta de comunicação, mas uma interface instável e enganosa que está constantemente subvertendo a si mesma, Os defensores da desconstrução acreditam que a intenção de um autor não confere significado a um texto (acreditam que isso cabe ao leitor / espectador / destinatário), e muitos pós-modernistas chegam a sugerir que o conceito de responsabilidade individual é superestimado como diz o acadêmico Chistopher Butler, “ sugerindo a existência de uma “crença muito romanceada e burguesa na importância da ação humana individual em vez de uma atribuição às estruturas econômicas subacentes”. — Michiko Kakutani, ‘A morte da verdade — notas sobre a mentira na era Trump’ pág. 200.

Essa acepção ao conhecimento, e afirmativa de que tudo é uma construção social com valor relativo e que pontos de vista não têm uma verdade absoluta ou validade intrínseca, está bem expressa em alguns discursos utilizados na era da pós-verdade. Eles em comum tanto à esquerda quanto à direita são:

  • Negação de ditaduras e revisionismo histórico
  • Oposição à realidade objetiva; crenças dogmáticas e noções intuitivas têm uma maior valor que a base real e a aplicação delas
  • A atribuição de valor igual a ciência e a pseudociência
  • Apelo ao tribalismo e um sentimento de pertencimento emocional
  • Narcisismo e aparência mais importantes que as ideias
  • Descarte de argumentos baseados na identidade da pessoa que fala e não pela validação lógica das ideias (anti-iluminismo)
  • Dogmatismo e irracionalismo com “verdades alternativas”

Apesar dos pontos comuns, ambos partem de ideais diferentes:

  • Esquerda: Negação total de hierarquias sociais e da desigualdade; Emancipação das vítimas
  • Direita: Afirmação de hierarquias sociais como intrínsecas e imutáveis; Supressão das vítimas

Como já visto, a Nova Esquerda têm seu pós-modernismo, e aplica a ideia de pertencimento e ressentimento, na perspectiva de grupos oprimidos. Já a Nova Direita têm seu ‘pós-modernismo’ aliado aos grupos tradicionais, isto quer dizer que eles se opõe ao feminismo, se opõe à imigração, se opõe à miscigenação, ressaltam o cristianismo e um modelo de família monogâmica com dominação masculina. Com isso eles apelam à uma vitimização desconectada da realidade, que se sustenta por dissonância cognitiva, e advogam teorias conspiratórias como o globalismo esquerdista, o marxismo cultural, o aborto indiscriminado, a ditadura feminista, o ambientalismo autoritário, a opressão negra e o genocídio branco, etc.

Essas pessoas de viés autoritário surtaram devido as rápidas mudanças nos costumes, e isto se deve a uma ‘força esquerdista’ em tudo, e não ao progresso da humanidade ou de valores racionais que exigem uma mudança social. Algumas dessas afirmações podemos observar no discurso de políticos reacionários e populistas em ascenção como Donald Trump, Jair Bolsonaro e Marine Le Pen.

Como explica Matthew McManus em seu texto ‘Como surgiu o conservadorismo pós-moderno’:

Os conservadores pós-modernos veem a identidade ou identidades com as quais se afiliam, e o conjunto de valores relacionados, sob ataque de várias forças sociais. Muitas vezes, criticam a sociedade neoliberal internamente, culpando as transformações sociais e econômicas (mas raramente as tecnológicas) mencionadas para marginalizá-las e reduzindo sua influência cultural e poder político. Eles também se ressentem da formação da cultura pós-moderna, em grande parte porque está associada quase exclusivamente à Nova Esquerda e suas políticas de identidade. Eles vêem a cultura pós-moderna como geradora de uma Nova Esquerda que empurra para uma maior e maior participação imerecida por parte dos povos historicamente marginalizados, em detrimento das identidades e valores que os conservadores pós-modernos afiliam.

O que tem implicações políticas:

Isso motiva os conservadores pós-modernos a assumir o controle do Estado e da agenda política, a fim de usar seus poderes ainda substanciais para remodelar o mundo à sua imagem e reprimir os grupos ameaçadores. Isso também significa que os conservadores pós-modernos consideram muitas fontes de autoridade epistêmica e meta ética, que desafiam sua identidade e seus valores afiliados, como inimigos a serem rejeitados ou esmagados, ao invés de interlocutores e concidadãos com quem dialogar. […] Os aspectos teatrais e escandalosos do conservadorismo pós-moderno testemunham suas raízes na mídia digital hiper-real e partidária. O resultado é um ambiente político feio e altamente polarizado, caracterizado por ataques à mídia e intelectuais, além de repressão mais substancial à imigração e outras figuras alienígenas. — Matthew McManusMatthew McManus, ‘Como surgiu o conservadorismo pós-moderno’ [link]

Vale lembrar que nem toda revisão da literatura histórica é ruim. Há muitas histórias de pessoas importantes que foram apagadas e que devem ser revistas, no entanto, deslegitimar a historiografia que temos até então em nome de uma defesa ideológica é problemática.

Os conservadores frequentemente têm dito que o nazismo não foi de direita, que a ditadura militar no Brasil foi boa para o país e que nem mesmo chegou a ser uma ditadura, que a escravidão dos negros era feita também por negros — tentando relativiza-la e torná-la mais branda. Já os progressistas têm dito que os ataques a Revolução Russa são pura propaganda imperialista americana e que ela não pode ser configurada como uma ditadura, que todo liberal ou centrista é alienado por conservadores/fascistas e que qualquer visão pragmática é ineficaz.

Todos estes discursos são ideológicos e idealistas. Motivados por um mundo ideal (como visto, partindo de diferentes perspectivas), ambos grupos tentam manipular verdades e fatos para mudar a sociedade da forma que desejam, assim, entramos em tempos de uma guerra de narrativas ainda mais maniqueístas e binárias que podem colocar em risco a democracia.

A contradição do pós-modernismo

Como visto, por ser uma corrente dentro do estruturalismo, ele tece uma crítica ao idealismo, ao materialismo, ao naturalismo e ao realismo científico, e se opõe a busca de fundamentações últimas.

Como hiperconstrutivista suas alegações são de que tudo são jogos de linguagens e narrativas. O conhecimento objetivo sempre foi também um discurso, uma aparência, para manter o poder. Sendo a verdade relativizada e fazendo oposição à objetividade, acaba tornando suas alegações inócuas e contraditórias, afinal, como se sugere que a verdade é relativa e se questiona a verdade daqueles que oprimem?

A negação do valor da ética e da ciência como algo objetivo, consequentemente, sustenta um relativismo cultural, moral e na obtenção de conhecimento, o que, por ventura, é usado também por pessoas de culturas que desejam sustentar as opressões sociais e seus privilégios decorrentes delas. Portanto, a alegação epistemológica profundamente cética do pós-modernismo é paradoxal, pois se não há ideais objetivos, não há porquê mudanças sociais.

Como diz o filósofo Gary Steiner, em seu livro ‘Animais e os limites do pós-modernismo’:

“o projeto pós-moderno sofre de uma instabilidade fundamental. Ela procura desmascarar noções tradicionais como verdade, princípio e autonomia, mas está igualmente empenhada em fazer afirmações de verdade e pronunciamentos éticos que dependem das próprias noções que ela trata em termos tão desdenhosos. Como uma filosofia — e o pós-modernismo é de fato isso — que é assolada por uma natureza tão fundamentalmente contraditória capturou a imaginação de tantos pensadores cuidadosos e bem intencionados? A resposta, penso eu, é que os princípios orientadores do pós-modernismo parecem exteriormente manter a promessa de minar toda uma tradição de pensamento sobre a realidade e a existência humana que passou a ser reconhecida como sofrendo de algumas deficiências sérias.” Animais e os limites do pós-modernismo, Gary Steiner pág. — (a conferir)

É inegável, há na sociedade muitos racistas, sexistas, homofóbicos e etc — em diferentes níveis e com diferentes justificativas para tal -, eles estão também na ciência, na filosofia, na história e em diversas outras áreas, todavia isso não implica que a construção do conhecimento objetivo o seja.

Um grande exemplo que podemos ter são os filósofos gregos. Eles conviviam com — e alguns naturalizavam — a escravidão, no entanto suas próprias ideias, aprimoradas posteriormente, mostraram que eles mesmos estavam errados sobre essa questão. Vejamos outro exemplo, muitas pensadoras mulheres que teorizaram o feminismo e ajudaram a construir o movimento eram racistas, isto não quer dizer que a ideia de igualdade moral e de direitos entre os sexos seja objetável.

Mesmo os grandes pensadores são condicionados socialmente, e mesmo tendo ideias virtuosas cometeram injustiças. Quase nenhum grande pensador da filosofia, da história ou da política, é isento de ter visões moralmente questionáveis. Isto não implica que o conhecimento que criaram deva ser todo jogado fora. Um equivoco comum é supormos que cada indivíduo é intelectualmente autônomo e independente do ambiente social, da mesma forma é um equívoco negar que devemos ser racionais e incentivar escolhas racionais.

Não precisamos, portanto, negar os princípios iluministas da razão, igualdade, liberdade, eles devem ser mantidos para defendermos o melhoramento da sociedade. A negação da realidade objetiva e a atribuição de valor à subjetividade nos colocará em uma contradição irrevogável, e ficaremos eternamente brigando por discursos irracionais e nos confortando com falsas-verdades ao invés de resolvermos com bom senso os grandes problemas sociais.

Da mesma forma que o pós-modernismo nega princípios objetivos, a prerrogativa de que adotada no identitarismo de que tudo é construção social nega conceitos materiais com referentes bem estabelecidos que foram usados inclusive para construção dos movimentos por direitos civis, como aponta Daniel A Kaufman:

“Em suma, as realidades materiais de certos grupos de pessoas — cor da pele, sexo, orientação sexual — foram usadas como forma de negar aos membros desses grupos os direitos e prerrogativas que são o fruto principal do Iluminismo e da modernidade, e movimentos relevantes de direitos civis surgiram em torno desses agrupamentos materiais , para argumentar que tais realidades materiais são totalmente consistentes com nossa igual dignidade e valor moral e com o fato de termos um lugar igual na polis moderna . Eles não negaram que as realidades materiais relevantes existem, mas que elas têm qualquer valência moral ou política legítima em uma sociedade moderna e democrática.

O identitatismo se apresenta sob uma bandeira progressista, mas é essencialmente uma forma de hiperindividualismo […]” — Daniel A. Kaufman, ‘O fim dos direitos civis’ [link]

Vale lembrar também que a “ciência identitária” e com fins políticos, feita para atender aos interesses políticos de algum grupo específico, sempre fracassou. Os nazistas tiveram sua própria ciência, os soviéticos, os conservadores. Todos eles com intenções de manter poder de fato e isto deve ser severamente criticado, agora, os pós-modernos negam a ciência em nome da quebra do poder, e nisso enquadram qualquer um que se oponham à sua visão identitária, mesmo aqueles que negam também esses discursos de poder através da ética e dos ideais racionalistas. Partindo da visão pós-moderna, as críticas racionalistas ao pós-modernismo são expressões da vontade de manter poder (imperialistas, burguesas, racistas, ou sexistas) escondidas por aqueles que fazem este ataque ou fruto da alienação, o que não é uma regra que possa ser generalizada.

A razão, apesar de na prática nem sempre ter sido usada, foi proposta para negar opressões e genocídios, assim como os direitos humanos, e devemos continuá-la usando para conseguirmos ainda mais avanços sociais. Outro ponto importante: os movimentos sociais anti-opressão não tem origem e nem foram fundados sobre o prisma do pós-modernismo, atualmente há neles algumas correntes, pautas e discursos pós-modernos. O pós-modernismo é um excesso do ativismo por justiça social, mas não anula esse ativismo como um tudo. Se opor ao discurso relativista pós-moderno não é se opor a superação das injustas desigualdades que devem sim ser superadas.

Gary Steiner, critica o pós-modernismo, dizendo que:

“A limitação fatal do pós-modernismo não é que lhe falte substância intelectual, mas que abarca duas noções que são fundamentalmente incompatíveis entre si: um compromisso com a indeterminação de significado e um senso de justiça que pressupõe o próprio acesso a um senso de determinação que a epistemologia pós-moderna rejeita como ilusória. Os apelos pós-modernos à justiça são fundamentalmente incoerentes na ausência de noções humanistas, como agência e responsabilidade. O objetivo das reflexões contemporâneas sobre o problema da opressão não deve ser o de avançar em direção a um futuro “pós-humanista” mal concebido, mas sim rever as concepções humanistas tradicionais para que reflitam melhor as vidas e as necessidades dos seres sencientes.”

Animais e os limites do pós-modernismo, Gary Steiner [intro] pág —

Isto é, afirmações morais são declarações de verdade então é contraditório declarar uma verdade dizendo que ela não existe. Helen Pluckrose, também vai na mesma linha:

A visão de mundo da Justiça Social é irracional e contraproducente para o progresso. Não é marxismo e não precisamos afirmar que é para se opor a ele. Podemos simplesmente defender os frutos da modernidade e, com ela, a busca de conhecimento objetivo, a priorização da razão e o princípio liberal da igualdade de direitos, liberdades e oportunidades, independentemente de raça, gênero e sexualidade. — Helen Pluckrose, ‘“Cultural Marxism” is a Myth. The Threat Comes From Elsewhere.’ [link]

O pós-modernismo, o interseccionalismo, e o identitarismo são movimentos muito politizados e críticos à sociedade, todavia ao negar os princípios do Iluminismo — ou ao tentar reendosá-los sectariamente pelo viés dos oprimidos — cria mais barreiras para a superação das injustas desigualdades. O apelo à ancestralidade, ao pre-colonialismo e a reescrita da história nem sempre são legítimos, apesar de muitas vezes serem pertinentes.

Os acertos do pós-modernismo

No pósfácio do livro de Lyotard, baseada nas palavras do autor, Silviano Santiago exibe a crítica a modernidade :

“Os metarrelatos foram responsáveis pela constituição — nos tempos modernos — de grandes atores, grandes heróis, grandes perigos, grandes périplos e, principalmente, do grande objetivo sociopolítico e econômico, trazendo uma impossível, mas almejada grandiosidade para um mundo que mais e mais se dava como burguês e capitalista, baixo e decadente. Eles tiveram como ponto de partida o ideal libertário da Revolução Francesa e como fundamento os princípios da razão iluminista. Ainda de maneira simplificada, digamos que aquela é equacionada ao autoritarismo, responsável por sua vez por inúmeras ditaduras de variado colorido, e está à vontade de compreender o processo social na sua totalidade, deixando que a violência homogeneizadora passe o rolo compressor no que é diferente e, por isto, heterogêneo, vale dizer no que é plural.”

E conclui:

“Aos olhos revolucionários, a pós-modernidade é reformista. Aos olhos iluministas ela é uma freguesa contumaz, ou seja, mais uma rebelião anárquica da irracionalidade. Aos olhos verdadeiramente modernos, ela é apenas modernizadora. Porém, aos seus próprios olhos, a pós-modernidade é antitotalitária, isto é, democraticamente fragmentada, e serve para afiar a nossa inteligência para o que é heterogêneo, marginal, marginalizado, cotidiano, a fim de que a razão histórica ali enxergue novos objetos de estudo. Perde-se a grandiosidade, ganha-se a tolerância. Em lugar do dever histórico do Homem, tem-se a integração plena do cidadão em comunidades.” — Jean-François Lyotard, ‘A Condição Pós-Moderna, pág. 127 [link]

O pós-modernismo, sofre com problemas como já visto, no entanto, não devemos traçar apenas uma dicotomia com o risco de condenar seus adeptos e todas suas críticas. Como diz José d’Assunção Barros:

“[…} o paradigma pós-moderno não é necessariamente o paradigma ruim. Há historiadores que trabalham com a perspetiva racionalista nas várias correntes imagináveis que fazem excelente trabalhos, e também trabalhos nem sempre tão bons, e há pós-modernistas que escreveram obras-primas, e outros que produzem obras não tão boas.” — José d’Assunção Barros, ‘A historiografia pós-moderna’ [link]

É um fato que negros, mulheres e gays ao longo dos últimos séculos vêm sendo rebaixados, excluídos e marginalizados. Isso também se dá na filosofia, na ciência e no meio acadêmico, o que fundamenta boa parte das críticas feitas à estas áreas. O fenômeno da multiculturalidade e do pós-modernismo ajudaram no combate à discriminação e a conquista de direitos, assim dando voz e importância à estes grupos.

Atualmente, os grupos oprimidos vem conquistando o protagonismo em suas lutas e ocupando espaços que anteriormente não podiam, o que é ótimo para justificarmos os direitos explícitos na constituição, de que todos somos iguais perante a lei, sem discriminações preconceituosas. Ao contrário do que a crítica ao pós-modernismo possa parecer, os grupos oprimidos, assim como os pós-modernos, não têm a intenção de suprimir ou de extinguir os direitos dos grupos privilegiados, apenas desejam aceitação e equiparação social, algo que já devíamos ter conquistado há séculos, por isso tal indignação é legitima.

Ressaltar identidades de povos historicamente oprimidos despertou àqueles que tem bom senso um maior cuidado no tratamento com os outros, além de mais tolerância ao ouvir outras perspectivas. Além disso, reforçou símbolos que deveriam ter mais destaque na história e criou toda uma nova área cultural onde agora temos histórias contundentes de como estes grupos se enxergam e como eles se apoiam. Em uma democracia, a identidade dos povos que a compõe devem ter sua importância e o pós-modernismo acelerou o processo quanto a isso, mas infelizmente, ao invés de nos fazer cada vez mais tolerantes, ajudou a despertar uma reação forte dos conservadores.

A política é incômoda e a justiça social não é um problema, as opressões sociais são sérias e devem ser relevantes no meio acadêmico. As práticas que violam a integridade de outras pessoas e o ódio à grupos específicos devem ser combatidas. Por isto tudo, estudos de raça, feministas, de gênero, etc, são de extrema importância, mas não devem ser colocados à mercê do relativismo.

Os movimentos sociais tecem boas criticas ao expor como negros e mulheres foram negligenciados na história, por outro lado negam o valor do método científico e por atribuir à ela um status macho-branco-opressor. É válido ressaltar que o racionalismo já nos dá um aparato para afirmar a igualdade de direitos, e que portanto, todos racionalistas devem reconhecer que ainda estamos distantes de um mundo justo e também devem se dispor a combater as opressões, algo que muitos parecem negligenciar. Assim como os pós-modernos têm uma birra do iluminismo, descartando seu rótulo por completo, os neoiluministas não devem fazer o mesmo com o risco de caírem no mesmo erro: o de não analisar ideias particulares.

Portanto, o problema não é a ascensão dos grupos oprimidos e sim alguns argumentos irracionais que se vem usando dentro dos movimentos sociais e da academia para combater os privilégios e as opressões, isso se dá em grande parte ao pós-modernismo. A afirmativa que alguns grupos sociais tem menor espaço nas universidades, por conta das mazelas sociais, não deve ser usado para negar o valor do conhecimento acadêmico objetivo e da especialização.

No seu melhor — como no trabalho de Beauvoir e Appiah — o pensamento do construtivismo social põe a nu a contingência das nossas práticas sociais que erroneamente viemos a considerar como inevitáveis. Fá-lo apoiando-se nos cânones do bom raciocínio científico. Mas se perde quando aspira se tornar ou uma metafísica geral ou uma teoria geral do conhecimento. No papel da primeira, rapidamente degenera em uma forma impossível de idealismo. No papel da segunda, assume o seu lugar numa longa história de tentativas problemáticas de relativizar a noção de racionalidade. Nada traz de novo a essas perspectivas historicamente desacreditadas; quando muito, as versões do construtivismo social tendem a ser mais obscuras e mais confusas do que as suas contrapartes tradicionais. — O que é a construção social? Paul A. Boghossian [link]

Recomendações

Algumas pessoas no Brasil são árduas combatentes do pós-modernismo. Apesar de não endossar todas suas opiniões e de pensar que muitos ataques à este movimento são insensíveis e exagerados, recomendo segui-los para ver uma visão anti-pós-moderna. São eles: Francisco Bosco, Vladimir Safatle, Bruno Frederico Muller, Eli Vieira, Idelber Avelar, Ciro Flamarion Cardoso. Claro, recomendo também que se siga pessoas que têm traços do pós-modernismo como é o caso do historiador Leandro Karnal, a filósofa Djamila Ribeiro, e também os YouTubers Murilo Araújo, Spartakus Santiago — os quais vejo alguns discursos. Quanto aos sites anti-pós-modernismo recomendo o bastante citado Areo Magazine, e em português o site Crítica na Rede, este último que é voltado para debater ideias filosóficas em geral.

O problema da humanidade hoje é precisamente o oposto daquele que tiveram os homens (…) das grandes mitologias. Naqueles períodos, todo sentido residia no grupo, nas grandes formas anônimas, e não havia nenhum sentido no indivíduo com a capacidade de se expressar; hoje não há nenhum sentido no grupo tudo está no indivíduo. Mas, hoje, o sentido é totalmente inconsciente. Não se sabe o alvo para o qual se caminha. Não se sabe o que move as pessoas.Joseph Campbell, O Herói de Mil Faces

Veja abaixo dois vídeos complementares:

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