Qual mundo é melhor: um mundo com mais ou menos sofrimento?

Precisamos analisar nossas ideias, levar elas a sério e aplicar elas no mundo real

Julio Cesar Prava
3 min readMay 7, 2024

Pense por um minuto, qual é um mundo melhor: um mundo onde prejudicamos e causamos mais sofrimento aos outros ou um mundo onde evitamos prejudicar os outros e causamos menos sofrimento à eles?

Se você responder que tanto faz, cada pessoa pode pensar o que quiser sobre essa questão, estará indo contra sua própria segurança pois os outros que pensam isso poderiam te prejudicar! Ao assumir essa posição você admitirá o que é chamado de relativismo moral. Numa sociedade, o relativismo moral é uma ideia perigosa, pois coloca o peso igual para todas as escolhas, imagine só se as escolhas de São Francisco de Assis, que tentava ajudar os outros, é equiparável as escolhas de Hitler? Meio sem sentido, certo?

Agora se você responder que um mundo onde evitamos prejudicar os outros é melhor poderá estar colocando várias ideias, escolhas, crenças e hábitos seus em jogo. Uma delas, por exemplo, é consumir animais. Animais são outros e eles podem sofrer e ser prejudicados. Nesse momento você talvez esteja pensando em justificativas para poder continuar consumindo os animais e está tudo bem pensar isso, somos educados com várias dessas ideias. No entanto, com uma análise rigorosa essas ideias dificilmente se sustentam.

Aliás, para discutir ideias precisamos colocar em suspensão nossas crenças, para conseguir ver elas melhor. Afinal, nós podemos não ser tão críticos quanto pensamos ser, isso porque a sociedade molda nossas crenças e nós muitas vezes apenas as defendemos sem examiná-las. Nós também somos limitados, não há como saber sobre tudo, então é normal não termos outras informações e perspectivas que contrapõe nossas visões pré-estabelecidas, mas elas são muito importantes para chegarmos a respostas melhores para questões filosóficas.

Agora voltando ao assunto, há décadas na área da filosofia que discute o que é certo e errado de fazer, pensadores que defendem a exploração animal tem sido encurralados com seus argumentos, pois eles sempre se contradizem ou são baseados em achismos, não tendo boas razões para continuar prejudicando os animais. Uma maneira de perceber isso é pensando em princípios como o da igual consideração de interesses semelhantes e o da imparcialidade.

Estamos acostumados a pensar que há alguns tipos de indivíduos melhores que os outros, mas quando essas ideias foram aplicadas para humanos, selecionando características geográficas ou biológicas diferentes para tratá-los diferentes, vimos grandes catástrofes na sociedade que envolveram à ausência de direitos para negros, mulheres, indígenas e outros diversos grupos. Se pensássemos que o que importa é que todos os indivíduos desses grupos podem ser prejudicados e sofrer de forma semelhante — que é a raiz da questão — e os considerássemos de forma imparcial, teríamos evitado sistemas opressivos, muito sofrimento e morte. Se estivéssemos no lugar deles não seria certo também. Se nossas vontades e escolhas não podem envolver prejudicá-los, as escolhas e vontades dos outros não podem envolver nos prejudicar também.

Isso nos leva a pensar que se queremos mais paz, justiça e liberdade, ou mesmo um mundo melhor, nós precisamos incluir mais indivíduos na sociedade, não excluir ou explorar aqueles que são mais vulneráveis, independentemente como eles se parecem. Os animais que têm cérebros ou gânglios são seres que, assim como os humanos, experimentam sensações e nisso somos todos iguais. Então para mensurarmos se o mundo é melhor ou pior precisamos colocar isso nos nossos cálculos morais, independente se eles são seres diferentes, pois o que importa não é a maneira que pensam e sim se eles podem sofrer. Qualquer ser que tenha a capacidade consciente de ser prejudicado precisa ser considerado.

Agora voltemos a questão? Você está disposto a levar a sério aquilo que acredita? Se acha que tanto faz as escolhas das pessoas quando elas prejudicam os outros, terá que abrir mão de tudo aquilo que te garante que não te prejudiquem também, já se você acredita que um mundo melhor contém menos sofrimento, precisa incluir todos aqueles que podem sofrer também.

Vale lembrar que alinhar nossos valores as nossas escolhas é uma parte muito importante de toda essa discussão, pois aquilo que fazemos têm um grande impacto no mundo real e na vida de todos os outros, que são fundamentalmente igual a nós, apesar de algumas diferenças.

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