Ética: entre ações e omissões

Quando puder, escolha ajudar

Julio Cesar Prava
3 min readOct 3, 2023

Você vê alguém caindo no chão, a pessoa começa a passar mal seriamente. Então surge uma escolha, poder ajudar, prestando socorro, ou simplesmente passar direto e esperar deixar o sujeito a mercê da sorte.

Parece uma escolha moralmente questionável dizer que não precisamos ajudar, haja visto em situações que isso não nos coloca em risco e poderia reduzir o sofrimento ou o risco de vida de alguém.

No passado já pensei que seria uma escolha igualmente válida, ajudar e não ajudar, mas hoje entendo que a ética é questão de fazer escolhas, não tem a ver apenas com minhas ações. Deixar o curso natural ocorrer, não é justificável.

Podemos compreender que as escolhas e preferências morais de cada pessoa são totalmente subjetivas, no entanto, ética exige objetividade, não há como pensar em ética sem ser de forma coletiva. As posturas morais corretas não são todas aquelas possíveis e sim aquelas com as tendências para as melhores consequências disponíveis para todos os envolvidos. Ética não é sobre o que podemos fazer e sim sobre o que melhor devemos fazer. Para ser ético, portanto, é preciso tomar as melhores decisões, fazendo escolhas racionais visando o bem comum. Isto mostra que devemos interferir em uma situações problemáticas.

Claro, podemos discutir as diferentes posturas e teorias éticas, mas se o propósito é criar sociedades melhores para todos os indivíduos envolvidos, os argumentos consequencialistas são mais fortes que os argumentos deontológicos, porque o deontologismo se concentra mais nos princípios e deveres morais independentemente das consequências. Portanto, sentenças/regras deontológicas sem cálculo de consequências são vazias, afinal, poderiam causar mais danos que benefícios. Não há boas razões para regras em si serem válidas ou justificadas. Como falar em escolhas sem determinar o que causa o melhor ou o pior para os indivíduos? A ética deve nos levar a pensar no sofrimento ou no bem-estar deles, não a postular palavras em si mesmas, precisamos de matemática também.

Se há alguém sofrendo e temos escolhas que melhorariam a situação então devemos nos dispor a ajudar, essa é uma escolha melhor justificada. É por esse motivo também que, por exemplo, só o veganismo não basta. Não basta deixarmos de causar mal diretamente aos animais, precisamos também pararmos de nos omitir com o sofrimento dos animais na natureza, na medida do possível. Devemos traçar estratégias efetivas para reduzir todo o sofrimento e potencializar a felicidade dos indivíduos, em todos os cenários possíveis, não que seja uma tarefa fácil.

A ética nos leva sempre a escolhas, e ao fazermos uma escolha deixamos de fazer várias outras, é um tradeoff. No entanto, isso não quer dizer que devemos estar o tempo todo lutando ou doando todo nosso dinheiro. Precisamos equilibrar nossas escolhas com o nosso bem-estar enquanto indivíduos também, senão ficaremos bitolados ao achar que devemos estar procurando ajudar o mundo a cada momento e nos deixamos de lado.

Você pode jogar um pouco de videogame ao invés de estar em uma passeata de ativistas por libertação, mas quando parar para fazer escolhas morais sérias, tente se olhar de fora e ser imparcial, evitando viéses e considerando melhorar a vida de todos os seres que podem ser afetados. Pense em todos os seres que podem ser prejudicados e beneficiados, os seres sencientes, tanto nas ações como nas omissões.

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